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Ibéria – "Revolution" Review

Existem revoluções que demoram décadas a tomar forma. No caso dos Ibéria, é necessário dar um salto de 21 anos para fazer a ligação entre “Heroes Of The Wasteland” e o mais recente e aguardado regresso ao activo discográfico sublinhado com o lançamento de “Revolution”, já durante este ano presente. As sementes lançadas por João Sérgio e Francisco Landum em 2007, com o objectivo de verem reeditados e remasterizados os dois longa duração gravados no passado, “Ibéria” (1988) e o já mencionado “Heroes Of The Wasteland” (1990), providenciaram os seus frutos com o regresso da banda em 2009 e agora com a edição de um novo disco, um novo fôlego para um colectivo que inscreveu por mérito próprio o seu nome na história do hard rock/heavy metal nacional.

Enquanto os temas de “Revolution” vão desfilando aqui no sistema sonoro, a memória recorda a este vosso amigo as horas passadas na adolescência do início dos anos 90 a rodar o tema ‘México’ e as diversas tentativas feitas para conseguir gravar o respectivo videoclip, quando a estação de televisão estatal se dignava a dar algum destaque às boas bandas portuguesas da altura! Mas não me cabe aqui o papel de contador de histórias...

“Revolution”, o disco do regresso, oferece-nos uns Ibéria completamente emersos na roupagem hard rock que sempre pontuou a sua sonoridade, mesmo que nos dois albums deixados para trás a balança também pudesse pender ocasionalmente para os exercícios mais característicos do heavy metal tradicional. Mas, em 2011, a formação onde ainda se encontram os membros fundadores Toninho (guitarra) e João Sérgio (baixo) está confiantemente a atravessar território confortável, seguros de uma maturidade musical alcançada ao longo de muitos anos e diversas experiências em diferentes projectos nacionais com maior ou menor projecção. Esta confiança oferece uma rede que vai transparecendo à medida que os temas de “Revolution” se vão sucedendo, mais uma vez confirmando os Ibéria como um nome grande na cena hard rock feita em território luso.

O disco oferece-nos as boas vindas com “Code Red”, um intro desnecessário mas que serve o seu propósito de abrir as portas para “Revolution”, o tema título que nos agarra com o seu balanço e presença, revelando-se assim ter sido uma óptima escolha para o arranque deste novo alinhamento de temas!

“All Night Flying” é hard-rock na sua forma essencial, começando-se aqui a notar a atenção dedicada aos refrões, fortes e com grande facilidade de se instalarem confortavelmente no nosso subconsciente. Os Ibéria querem que nos recordemos destes temas, mesmo depois de termos parado de ouvir o album. Operação alcançada com sucesso! O tema seguinte é um excelente exemplo disso, “Angel”, foi o primeiro avanço para este trabalho e utilizado como uma espécie de cartão de visita para a nova encarnação da banda, com um riff de guitarra sólido suportando um refrão que certamente vai ecoar nos vossos ouvidos muito depois de terem deixado este tema para trás!

Seguimos o caminho traçado por ‘Revolution’ e passamos por “Stooge” que não nos prende, mas que nos oferece passagem a “She Devil”, outro dos temas fortes deste disco, com um ambiente reminescente daquele que os irmãos Young penteiam os seus AC/DC, mas mais um tema muito forte e novamente marcado pela força de um refrão muito presente e um daqueles solos à antiga. A escrita é sólida, madura e eficaz, demonstração própria de uma banda evoluída e confiante. Só lhes fica bem!

Seguem-se “Turning Back”, “Dizzy” e “Hot In Love”, que não impressionam nem oferecem maior destaque ao que foi dito nas linhas anteriores, mas funcionam bem como ligação ao restante grupo de temas que ainda permanece por ouvir, como é o caso de “Ride”, a música mais longa num disco cujos temas têm em média três minutos e meio, mas que está longe de proporcionar enfado, pois está pincelada com a fórmula certa desenvolvida pelos Ibéria, uma base de guitarra forte, bons solos, melodia quanto baste e uma linha vocal que vai ficando à solta no éter! No tema seguinte, “Tired (Leave Me Alone)”, abrem-se as portas aos convidados especiais e às colaborações especificamente construídas para este álbum, com Fernando Ribeiro, dos mui afamados Moonspell, fazendo aqui a sua aparição, partilhando as vozes com Miguel Freitas, no entanto, esta parceria obriga a banda a fazer uma tangente à linha de escrita que tinha vindo a apresentar até aqui, fazendo com que este tema não pareça pertencer a este grupo de trabalho. Mas não é possível deixar de pensar numa espécie de ligação etérea nesta colaboração, entre o sonho que para muitos estava depositado na imagem e existência dos Ibéria de outras eras e a realidade tangível e actual que os Moonspell demonstraram ser possível de alcançar! A ponte está feita. Para além da óbvia colaboração artística, talvez o objectivo desta parceria fosse esse mesmo...

Deixamos as considerações filosóficas para trás e saltamos para mais uma viagem ao passado, passando rapidamente por “Nitro”, um tema acelerado e com uma dinâmica muito menos negra que o tema anterior. É saudável este equilíbrio de ambientes e demonstra também aqui o cuidado e atenção ao detalhe que foi colocado neste trabalho. É com esta transição que embarcamos num piscar de olho ao trabalho passado deste colectivo, novamente com um convidado especial, desta vez Ricardo Amorim, outro membro das fileiras de Moonspell, que veste a pele de hard-rocker para dar corpo a uma nova versão do tema “Hollywood”, um dos êxitos que os Ibéria gravaram durante os anos 80 e que desta forma oferece uma chave perfeita com que fechar o seu regresso ao activo!

Nota: 7.5/10
"Revolution" track list:

01. Code red

02. Revolution

03. All night flying
04. Angel
05. Stooge
06. She devil

07. Turning back

08. Dizzy

09. Hot in love

10. Ride
11. Tired (Leave me alone)

12. N.I.T.R.O.

13. Tommy´s frequency

14. Hollywood





Review por Rui Marujo