About Me

Entrevista aos Painted Black


"Cold Comfort" é o nome do álbum de estreia dos Portugueses Painted Black. Lançado em Maio deste ano, este registo não defraudou as espectativas que foram criadas pelas demos "The Neverlight" e "Verbo", tendo mesmo superado-as. Com um dos melhores álbuns nacionais do ano como pano de fundo, entrevistámos Luís Fazendeiro e Daniel Lucas, que nos contaram mais sobre a banda.

M.I. - Olá Luís e Daniel. Obrigada por terem disposto do vosso tempo para responder a esta entrevista.


Luís: Muito obrigado nós por nos darem esta oportunidade e pela vossa disponibilidade!


M.I. - Por três anos consecutivos vocês foram considerados pelos leitores da LOUD! como a melhor banda nacional sem contrato. Para além dessas nomeações, o vosso novo trabalho "Cold Comfort" foi distinguido por alguma imprensa (inclusive no M.I.) como melhor álbum do mês/semana . Como foi receber estas nomeações e o que significam para vós?

Luís: Vemos sempre com bastante alegria esse tipo de distinções até porque acabam por se tornar o maior feedback que temos relativamente ao nosso trabalho, mas não condiciona de forma alguma a nossa forma de fazer música. O que nos motiva a insistir nesta nossa paixão é a nossa própria necessidade de nos expressarmos através da música. Se conseguirmos chegar a mais gente, se mais pessoas se identificarem com o que nós fazemos, iremo-nos sentir com certeza mais realizados com o que fazemos. É muito fácil sentirmo-nos frustrados no mundo que envolve a música e todas as nomeações sempre nos vão dando mais alento.


M.I. - Em 2009 assinaram pela Ethereal Sound Works. Como surgiu a oportunidade de assinarem contrato com esta editora nacional?

Luís: Já conhecíamos a Ethereal Sound Works desde o tempo das nossas maquetas e fizemos-lhes chegar um promo CD que gravamos em 2008 nos UltraSound Studios em Braga. Depois de alguns meses a avaliar as nossas opções e as propostas que tivemos por parte de outras editoras, decidimos que a Ethereal nos oferecia as melhores condições para editar o "Cold Comfort". Foi um processo bastante natural e as coisas têm corrido bem até agora.



M.I. - Pelo que tive oportunidade de observar, vocês têm poucas datas de promoção de "Cold Comfort". A que se deve esse facto?

Luís: Tentámos marcar várias concertos para promover o álbum, mas infelizmente não conseguimos marcar nem metade das datas que queriamos. Em alguns casos não tivemos resposta às nossas propostas, outros pediram-nos dinheiro para tocar (valores que a banda não conseguria suportar), outros infelizmente foram cancelados, digamos que não tem sido fácil mas vamos continuar a insistir com certeza.


M.I. - Pelo que pude constatar, vocês irão actuar no tão conhecido Side B no dia 24 de Julho. Têm mais algumas datas em vista, ou ainda não há nada em concreto? 

Luís: Até há pouco tempo andávamos a negociar a nossa ida a uma cidade mais a norte, para uma data mais para o final do ano, mas para nossa tristeza e da organização, a nossa presença foi cancelada. De qualquer forma, como referenciei em cima, vamos continuar a estar atento a todos os convites e oportunidades que nos surjam.



M.I. - Como foram (e estão a ser) estes 9 anos de Painted Black?

Luís: Os primeiros 4 anos de Painted Black foram bastante difíceis, com entrada e saída de membros, com mudanças forçadas de locais de ensaio mas sempre pautados com uma enorme fome de fazer música e partilha-la com outras pessoas. Na formação actual apenas eu e o Daniel passámos por essas adversidades, por isso arrisco em dizer que, só a partir de 2005 e com o lançamento da nossa primeiro Demo em Dezembro desse mesmo ano, é que a banda começou a “a sério”. De qualquer forma todo o percurso ajudou a definir-nos como pessoas e a moldar a banda que somos hoje. São 9 anos a lutar e a desfrutar daquilo que mais gostamos de fazer na vida. Os lançamentos das nossas maquetas e mais recentemente do nosso primeiro álbum são marcos que nos enchem a alma de orgulho, devido a todo o esforço que depositamos em concretiza-los. Já sobrevivemos a coisas que provavelmente poderiam ditar o fim de uma banda, inclusive uma mudança geográfica, mas a paixão e a necessidade que temos para fazer música, juntamente com o feedback que recebemos das pessoas que gostam, e que se identificam com a nossa música, serão sempre o combustível que nos move.



M.I. - Quanto ás críticas a "Cold Comfort", como tem sido acolhido quer pelos media quer pelo público este vosso primeiro longa duração?

Luís: As críticas que têm saído têm sido surpreendentemente boas e o feedback que temos recebido do público também tem sido muito positivo, mas como em tudo, haverão sempre pessoas que não vão gostar da música que fazemos, e vemos isso de uma forma muito natural. Fazemos música que nos preencha, sempre com honestidade e principalmente para nos agradar. No entanto damos sempre as boas vindas a todos os que nos queiram acompanhar nesta nossa viagem e posso dizer que temos ficado bastante sensibilizados com as demonstrações de apreço que temos recebido.



M.I. - A meu ver "Cold Comfort" é um dos melhores álbuns dentro do Metal, feitos no nosso país nos últimos anos. Neste registo nota-se para além de uma grande evolução por parte de todos vós, uma maior atenção aos detalhes. Como correu o trabalho neste álbum?


Daniel: Não foi um processo fácil. Embora muito do que se prepara para a gravação de um álbum tem de ser feito nos ensaios, houve também a necessidade de muito trabalho de casa por parte de todos os membros da banda. Nem sempre é fácil numa banda com seis elementos ter compatibilidade de horários para que consigamos estar todos para fazer um ensaio como deve ser. Assim sendo quando algum não estava esse teria trabalho de casa a dobrar. O extenuante trabalho de ensaio serviu principalmente para levarmos para Braga as músicas já bem estruturadas, tocadas como deve ser, dentro dos tempos, ali com o metrónomo a fazer o seu importante papel, de modo a que quando fosse altura da captação demorássemos o menos tempo possível para que no fim tivéssemos mais tempo para acertar detalhes e acrescentar um ou outro pormenor. O nosso trabalho foi ainda mais fácil, e com fácil não quero dizer que tenha sido menos árduo, graças à orientação do Pedro Mendes e do Daniel Cardoso que foram duas peças fulcrais na boa concretização deste trabalho. Eles acompanharam-nos sempre, mesmo antes de iniciarmos as gravações e mesmo depois de terem sido finalizadas. Durante o tempo em que estivemos fechados nos UltraSound Studios tivemos a colaboração desses dois grandes profissionais que contribuíram com as suas opiniões e ideias, e que estiveram sempre ao nosso lado, quer no trabalho, quer fora dele. 


M.I. - O que vos levou a escolher a vocalista Micaela Cardoso para participar em "Via Dolorosa" e "Inevitability"? Pessoalmente penso que foi uma excelente escolha...


Daniel: Quando tivemos a ideia de acrescentar esses detalhes às músicas ainda não tínhamos pensado em ninguém específico para fazer as vozes. Houve discussão interna dentro da banda, enquanto escutávamos algumas músicas para ver se chegávamos àquele "click" e disséssemos "É esta." Já conhecíamos o trabalho dos Thee Orakle e tínhamos escutado recentemente o seu último trabalho, que também gravado nos UltraSound Studios. Das vozes que ouvimos foi aquela que nos pareceu perfeita para o que queríamos. Depois foi só contactar com a Micaela e sugerir-lhe a participação. Ficamos muito contentes por ela ter aceitado e o resultado é o que se ouve nas músicas.


M.I. - A qualidade musical dos Painted Black é algo inegável. Pensam de alguma forma tentar chegar ao mercado internacional?

Daniel: Acho que todas as bandas quando têm um álbum em mãos querem sempre chegar mais longe e o mercado internacional não é um objectivo de todo inalcançável. Ainda não temos nada em concreto planeado nesse campo, porque de momento estamos ainda a trabalhar para chegarmos a muitos sítios mesmo dentro do mercado nacional, que, motivado por uma coisa ou outra, é por vezes um processo moroso.


M.I. - Como é ter uma banda com a vossa sonoridade, num país onde os estilos - digamos - 'dominantes' são o Black Metal, Death Metal e Thrash Metal?

Daniel: Dito e visto dessa forma até posso dizer que é agradável ter uma sonoridade que foge aquilo que é “dominante”. Mas somos da opinião que há espaço para todos os estilos. Não nos sentimos diferentes ou especiais. Praticamos a sonoridade que sentimos e não porque é moda ou porque é o que vende e sempre foi assim desde que a banda iniciou. Nunca pensamos em tocar este ou aquele estilo para nos inserirmos num rótulo. Mas também nunca negamos as nossas influências. Elas são as nossas raizes e ajudaram-nos a descobrirmo-nos musicalmente. E mesmo que os estilos dominantes no nosso país sejam o Black, o Death e o Thrash, certamente que haverá um espaço para nós, porque tal como nesses estilos a raiz do som que nós praticamos é Metal e é nesse inegável ponto que nos cruzamos.


M.I. - Quais as vossas metas e ambições?

Daniel: Neste momento fazer a melhor e maior divulgação possível ao “Cold Comfort”. Andamos a fazer esforços para que o álbum chegue a todos os cantos do nosso país e procuramos também as melhores possibilidades para fazermos actuações de Norte a Sul. Estas serão por agora as metas a curto prazo. De futuro, ainda é cedo para dizer alguma coisa mais concreta, mas certamente posso dizer que iremos continuar a trabalhar e preparar músicas novas para concretizarmos um novo álbum. Vontade é coisa que não falta. Mas como sempre, tem de ser tudo muito bem pensado e ponderado. De momento vamos focar-nos no que temos para fazer por agora.


M.I. - Luís e Daniel, agradeço-vos mais uma vez pelo tempo dispendido e pela oportunidade. Despeço-me de vós com os votos de boa sorte para o vosso projecto, que esperemos que predure por bastantes anos.

Nós agradecemos por esta oportunidade e pelo vosso interesse nos Painted Black e desejamos também a melhor das sortes para a Metal Imperium, com o mesmo sentimento depositado em nós.



Entrevista por Diana Fernandes